domingo, 20 de janeiro de 2013


                                                    I


Não sei como os historiadores vão definir  este período. Esta é a minha contribuição, porque vivi e observei os acontecimentos. Não vi tudo, não observei tudo, mas estive perto do centro da acção durante uma semana. Estou de saída e quis obrigar-me a um exercício de recordação, para não ser como o  filósofo de Gasset, aquele que vive entre as coisas  que se diz terem morrido.
 Um ponto de ordem para que os mais novos, quando lerem estas páginas, compreendam o desenho global. Em meados de 2017, o que restava da antiga ordem esfumou-se de vez. O país ficou sem governo, sem parlamento, sem presidente. Não por causa de um golpe militar ou de uma  revolução, como é regra na História, mas porque ninguém quis governar. Antes que começasse o saque de bancos, lojas e escolas, e  a paralisia total ( porque a quase total já existia) engolisse a nação ( soa-me estranho escrever esta palavra), o Governo Central Europeu  nomeou uma Comissão  Administrativa Especial ( a CADE). Esta estrutura chegou acompanhada de uma força anti-motim ( a Direcção de Normalização Territorial, DINATE) que dissolveu todos os corpos policiais e militares existentes. Isto  só foi possível porque  as polícias e as Forças Armadas estavam sem dinheiro. Visto agora, à distância, parece bizarro que tantos militares tenham tolerado serem desapossados da sua autoridade e prestígio. Na altura, quem viveu esses  tempos, não estranhou. Os serviços já eram mínimos, os indivíduos, sob as fardas, guardavam dívidas e desespero.
O último ministro  da Defesa de um governo irreal, nomeado na prática já pelo Governo Central Europeu,  antes de se demitir, em Março,  disse esperar que as Forças armadas soubessem manter a compostura e o sentido patriótico. É quase onírica  a forma como nos comportamos  em períodos de urgência. 




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