I
Não sei como os historiadores vão definir este período. Esta é a minha contribuição, porque vivi e observei os acontecimentos. Não vi tudo, não observei tudo, mas estive perto do centro da acção durante uma semana. Estou de saída e quis obrigar-me a um exercício de recordação, para não ser como o filósofo de Gasset, aquele que vive entre as coisas que se diz terem morrido.
Não sei como os historiadores vão definir este período. Esta é a minha contribuição, porque vivi e observei os acontecimentos. Não vi tudo, não observei tudo, mas estive perto do centro da acção durante uma semana. Estou de saída e quis obrigar-me a um exercício de recordação, para não ser como o filósofo de Gasset, aquele que vive entre as coisas que se diz terem morrido.
Um ponto de ordem para que os mais novos,
quando lerem estas páginas, compreendam o desenho global. Em meados de 2017, o
que restava da antiga ordem esfumou-se de vez. O país ficou sem governo, sem
parlamento, sem presidente. Não por causa de um golpe militar ou de uma revolução, como é regra na História,
mas porque ninguém quis governar. Antes que começasse o saque de bancos, lojas
e escolas, e a paralisia total (
porque a quase total já existia) engolisse a nação ( soa-me estranho escrever
esta palavra), o Governo Central Europeu
nomeou uma Comissão
Administrativa Especial ( a CADE). Esta estrutura chegou acompanhada de
uma força anti-motim ( a Direcção de Normalização Territorial, DINATE) que
dissolveu todos os corpos policiais e militares existentes. Isto só foi possível porque as polícias e as Forças Armadas estavam
sem dinheiro. Visto agora, à distância, parece bizarro que tantos militares
tenham tolerado serem desapossados da sua autoridade e prestígio. Na altura,
quem viveu esses tempos, não
estranhou. Os serviços já eram mínimos, os indivíduos, sob as fardas, guardavam
dívidas e desespero.
O
último ministro da Defesa de um
governo irreal, nomeado na prática já pelo Governo Central Europeu, antes de se demitir, em Março, disse esperar que as Forças armadas
soubessem manter a compostura e o sentido patriótico. É quase onírica a forma como nos comportamos em períodos de urgência.
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